William Osler, médico canadense, é um ícone da medicina moderna. Ele desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da medicina nos séculos XIX e XX, sendo reconhecido por suas contribuições significativas tanto na prática clínica quanto na formação de profissionais da saúde.
Destacou-se não apenas por suas realizações médicas, mas também por seu impacto como líder acadêmico e mentor. Seu legado continua a influenciar a medicina moderna, e ele é lembrado como uma figura emblemática que moldou a profissão médica. Existem citações de Osler que se amplificam até hoje.
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Ele foi um dos quatro professores fundadores do prestigiado Hospital Johns Hopkins nos EUA. Juntamente com o patologista e microbiologista Willian Welch, o cirurgião William S. Halsted e o ginecologista Howard A Kelly, Osler integrou o chamado “os quatro de Baltimore” que, na realidade, criaram tanto a Faculdade de Medicina quanto o hospital. De Osler é a famosa frase “A medicina é uma ciência da incerteza e uma arte da probabilidade”, onde a ciência e a arte do cuidar são sintetizadas de uma forma brilhante.
Cotidianamente os médicos são confrontados com a incerteza. Com o “eu não sei”. E nem sempre lidam de forma saudável com uma ciência – e uma arte, que cotidianamente é perpassada pela incerteza. Conhecimento é importante, mas a capacidade de observar, reavaliar, rever, discutir os casos do dia a dia que deflagram a incerteza é essencial. Provavelmente só a experiência permite que os médicos possam conviver de forma mais confortável com a incerteza. A busca de uma certeza, tantas vezes improvável, por vezes pode ser mais lesiva do que a própria doença.
Um exemplo é a realização de extensas investigações com dezenas de exames sobre condições que a avaliação semiológica do paciente não sugeriria ser necessária. A capacidade de observar, de não intervir e conhecer a história natural das doenças pode ser um diferencial do médico experiente e tranquilo para aquele que está inseguro ou pratica a chamada “Medicina Defensiva”.
Conexão
Citado por Francisco Arsego, médico de famíla da FMURGS, em artigo para o site da Sociedade Brasileira de Família e Comunidade, outro aforismo de Osler é “o desejo de tomar medicamentos é talvez a maior diferença que distingue os homens dos animais”. Uma ideia pessoal é que, muitas vezes, as longas prescrições oferecidas às pessoas idosas, possam ter relação com duas questões.
A primeira é que os idosos, particularmente aqueles com mais de 75 anos, viveram uma época em que os recursos farmacológicos da medicina eram escassos e pouco eficientes. Ao longo dos últimos 70 anos, a evolução da farmacologia foi formidável. Hoje as possibilidades de terapêutica farmacológica são quase infinitas.
Aqueles que saíram de uma fase de grande carência de recursos para uma oferta de centenas de medicamentos com comprovada eficácia, podem ter a ilusão de que a medicina moderna tem “remédio para tudo”. E a verdade é que muitos sintomas pouco específicos não necessitam de remédios.
Abordagem multiprofissional (psicológica, fisioterapêutica, nutricional, ou às vezes mesmo social), pode ser necessária. Nada mais antiga e equivocada é a crença de que, se o paciente sair do consultório sem uma receita ou um pedido de exames, não retorna mais. O mais importante é que haja uma conexão entre os médicos e os pacientes. Ou seja , uma relação médico-paciente sólida e de confiança.
Polifarmácia
A polifarmácia, definida como o uso concomitante de cinco ou mais medicamentos, aumentou de modo importante nos últimos anos. Doenças crônicas e manifestações clínicas decorrentes do envelhecimento podem ser questões cruciais.
A polifarmácia está associada ao aumento do risco e da gravidade das reações adversas aos medicamentos, de precipitar interações medicamentosas, de causar toxicidade cumulativa, de ocasionar erros de medicação, de reduzir a adesão ao tratamento e elevar a morbimortalidade. Os custos assistenciais, que incluem medicamentos e as repercussões advindas desse uso são significativos.
Neste são incorporados os custos de consulta a especialistas, atendimento de emergência e de internação hospitalar. Estudo publicado na revista Nature em março de 2024 revela que cerca de 5% das internações hospitalares nos EUA são causadas por reações adversas à drogas.
Estratégia de Prescrição Racional e Desprescrição são formas importantes de enfrentar esta questão de saúde pública. Embora buscar a precisão diagnóstica em pessoas idosas seja louvável, isso nem sempre é possível. E nada mais equivocado do que tratar todas as queixas e sintomas, em particular das pessoas idosas, com remédios. Uma abordagem holística e multiprofissional pode ser uma atitude muito mais inteligente, elegante e cuidadosa.